Em BH, empreiteiras apostaram em candidato só depois de eleito
31/12/12 00:00JOELMIR TAVARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Das 25 empresas de construção civil que fizeram doações para o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), 19 deram suas contribuições depois que os votos já haviam sido apurados.
O setor foi o principal financiador do político mineiro, reeleito no primeiro turno. As 19 empreiteiras que doaram após a votação investiram R$ 1 milhão, em contraste com os R$ 18 mil das seis que doaram antes das eleições.
Fechadas as urnas e as contas, 52% dos recursos recebidos diretamente de pessoas jurídicas pelo prefeito vieram do setor da construção civil.
Para o cientista político Rudá Ricci, as doações tardias podem ser um reflexo da repercussão do julgamento do mensalão e da CPI do Cachoeira. “As empreiteiras seguraram os recursos porque tinham a preocupação de, mais tarde, ter a imagem relacionada a problemas públicos”, afirma.
Entre os prefeitos eleitos nas capitais, Lacerda foi o que mais recebeu doações pós-vitória. Arrecadou R$ 4,3 milhões depois de 7 de outubro –o equivalente a 20% de todo o montante recebido (R$ 21,5 milhões).
Das 25 empreiteiras que fizeram doações, dez firmaram contratos com a prefeitura desde 2009, quando Lacerda assumiu o cargo pela primeira vez, segundo dados do “Diário Oficial do Município” de Belo Horizonte.
“É um padrão brasileiro. Na maioria das vezes, ou a empresa está pagando por um processo licitatório estranho que já ocorreu ou por um favor futuro”, diz Ricci.
Maior doadora do setor, a Constran S.A. repassou R$ 500 mil ao peessedebista no dia 18 de outubro –metade do valor de todas as doações de última hora feitas pelo setor.
Desde 2009, a empreiteira venceu quatro licitações, em consórcio com outras empresas. Em julho do ano passado, por exemplo, o consórcio Constran/Convap assinou contrato com a administração municipal no valor de R$ 36,3 milhões para executar a pavimentação de um trecho do sistema de transporte público BRT.
A construtora nega que haja relação entre doação e licitação (leia abaixo).
A maior parte do financiamento da campanha de Lacerda foi indireto, por meio do partido. E, mesmo após as doações de última hora, ele acabou com uma dívida de R$ 6,6 milhões.
OUTRO LADO
Questionado se a concentração de doações poderia criar conflitos de interesse ao longo do mandato do prefeito, o PSB respondeu, em nota, que “todas as empresas que doaram para a campanha doaram dentro da legalidade”.
As contribuições, de fato, foram feitas dentro do prazo de 30 dias após o pleito para enviar a prestação final de contas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O partido negou, ainda por meio de nota, que a entrada em massa das empresas após a vitória tenha sido uma manobra para dissociar a imagem de Lacerda do setor durante a campanha e evitar acusações de vínculo dele com as empreiteiras.
Neste ano, pela primeira vez, as declarações parciais de financiamento entregues durante a campanha identificaram claramente os doadores.
A Constran, que doou metade dos recursos pagos por empreiteiras a Lacerda, não quis detalhar seus critérios para apoiar políticos nem a decisão de doar a quantia ao candidato. “Todas as doações foram feitas com total transparência, seguindo os parâmetros legais, e diretamente a candidatos e partidos”, declarou, em nota.