Em São Luís, nanicos ganham maioria à base de favores
31/12/12 00:00DANIEL LOMONACO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Candidatos eleitos por partidos nanicos levaram a maior parte das cadeiras na Câmara Municipal de São Luís (MA) gastando bem menos do que legendas médias e grandes. Houve economia tanto nas arrecadações quanto no valor gasto por voto obtido. O segredo, segundo os futuros vereadores, é contar com favores de amigos.
São Luís é a capital brasileira com maior percentual de vereadores eleitos por partidos pequenos (58%). Das 31 cadeiras disputadas nas eleições de 2012, 18 ficaram com 10 partidos de pouca expressão nacional. Desses, 14 vereadores gastaram menos de R$ 20 por voto.
Apenas dois candidatos eleitos por partidos maiores gastaram tão pouco: um do DEM e outro do PPS.
Para o professor de história da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) Wagner Cabral, a morte de Jackson Lago, o maior nome da política local, levou à alta pulverização partidária em São Luís. Lago foi três vezes prefeito da capital maranhense e se elegeu governador em 2006, pelo PDT, mas o partido se dividiu após sua cassação e morte, em 2009 e 2011, respectivamente.
Sem aportes de empresas nem do partido, Ricardo Diniz, do PHS, foi o vereador eleito que menos gastou (R$ 15.750) e que teve a melhor relação de gasto por eleitor (R$ 5,27). Ele obteve 2.987 votos.
Diniz usou suas economias e contou com a ajuda de amigos. As duas maiores doações foram estimadas em R$ 4.000 e não envolveram pagamento direto –são favores como empréstimo de um carro e outros tipos de ajuda voluntária. “Nas eleições de 2008, gastei mais do que agora e não fui eleito”, afirma.
Segundo ele, no período em que dirigiu o Hospital da Criança de São Luís, entre
2009 e 2011, ganhou a confiança dos usuários do sistema público de saúde. “A partir do momento que a população se sente bem atendida, ela dá um retorno, que no meu caso foi por meio de votos.”
MAIORIA NA CÂMARA
O PT do B tem apenas três deputados federais e nenhum senador em Brasília, mas estará entre os partidos mais presentes na Câmara de São Luís em 2013, com três vagas. Conquistou tantas cadeiras quanto o PSDB e o PDT.
Eleito pelo PT do B, Manoel Rego dos Santos também gastou pouco por seus 4.048 votos. Ele declarou ter arrecadado R$ 38.915, oitavo menor custo por voto (R$ 9,61), mas não recebeu nenhum centavo sequer. Segundo sua prestação de contas à Justiça Eleitoral, todas as doações foram estimadas. “Tudo o que está declarado foi ajuda de amigos que acreditaram em mim e emprestaram carro, bancaram a gasolina e me ajudaram com outras coisas”, diz.
Segundo Santos, a falta de dinheiro foi compensada pelo prestígio que adquiriu durante o tempo em que prestou serviços para a Secretaria Municipal de Planejamento, entre 2009 e 2012, quando ajudava na marcação de cirurgias e consultas.
Para Cabral, as campanhas de partidos grandes e pequenos não são diferentes. “O padrão usual de eleição para a Câmara é o de candidaturas montadas em fortes esquemas clientelísticos, com prefeitos contratando gente indicada por vereadores”, afirma.
PEQUENO, MAS NEM TANTO
Diferentemente de Santos, a candidata a vereadora e presidente do PT do B maranhense, Luciana Mendes, foi eleita com ajuda da legenda. Dos R$ 133,5 mil arrecadados por ela, R$ 30 mil vieram da direção nacional do partido. Mesmo gastando quase 3,5 vezes mais, Luciana obteve menos votos do que o correligionário: 3.758, a R$ 35 por voto.
Segundo ela, a diferença na performance eleitoral se deve ao perfil de cada candidato. “Ele é um líder comunitário que presta serviços à comunidade há muito tempo”, diz. Luciana admite ainda que o fato de ser filha de Lourival Mendes, deputado federal pelo PT do B, ajudou na obtenção de apoio à sua campanha.
Procurado, Lourival não respondeu os telefonemas da reportagem.
Para o cientista político Carlos Ranulfo, coordenador do Centro de Estudos Legislativos da UFMG, partidos pequenos como Psol e PC do B, que “representam ideologias e têm programas partidários sérios”, não podem ser misturados ao restante dos nanicos.
“Os nanicos são partidos que geralmente têm donos que controlam as legendas. O crescimento dessas siglas transforma as Câmaras em sessão de varejo. Não são partidos reais, somente atuam no toma lá dá cá e não têm nível de representatividade algum”, critica.