Uma campanha de cinco Itaquerões
31/12/12 00:00Entre julho e outubro, um seleto grupo de brasileiros gastou recursos equivalentes a cinco obras do estádio Itaquerão, que receberá o jogo inaugural da Copa de 2014.
Quase meio milhão de candidatos a prefeito e a vereador utilizou R$ 4,1 bilhão em recursos públicos e privados, próprios ou captados, diretos e indiretos, para concorrer ao direito de, a partir da próxima terça-feira, influir nos rumos das 5.565 cidades brasileiras. Em média, a eleição custou aos candidatos R$ 29,44 para cada um dos 138,5 milhões de eleitores.
A 54ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha levantou dados do custo do voto das capitais do Brasil para traçar perfis dos caminhos do dinheiro na eleição – da vereadora recordista de votos que rejeitou doações de empresas à prefeita que recebeu 100% dos seus recursos em doações ocultas, feitas por empresas a diretórios e comitês partidários. (Leia aqui todos os perfis.)
Em 2012, as doações registradas ficaram mais transparentes: a Justiça Eleitoral publicou pela primeira vez os detalhes dos doadores antes da eleição. Isso, segundo os especialistas entrevistados, torna o Brasil um dos países mais transparentes no tocante ao financiamento de campanhas, ainda que a fiscalização dos recursos deixe a desejar. As doações ocultas, feitas por meio dos partidos e que dificultam ligar doador e receptor, são consideradas benéficas por especialistas, por serem declaradas e teoricamente reduzirem a dependência dos candidatos em relação aos doadores.
O assunto, porém, segue como tabu entre os envolvidos. Doadores e candidatos dão uma resposta-padrão vaga a quem pede detalhes sobre o financiamento: “todas as doações estão dentro da lei”. Se não estivessem, dificilmente estariam registradas; o mero fato de estarem, porém, não encerra o assunto, que merece um debate mais claro.
Há pouco consenso quanto a como melhorar o sistema. Os projetos de reforma em debate no Congresso propõem principalmente o financiamento exclusivamente público. Nenhuma grande democracia do mundo utiliza esse modelo. Também há dúvidas sobre se a proibição do caixa um teria alguma eficácia no combate ao caixa dois.
Além do que é gasto pelos partidos, parte do custo da eleição já sai dos cofres públicos –cerca de R$ 1 bilhão. A Justiça Eleitoral gasta R$ 395,3 milhões em custos operacionais (transporte das urnas, segurança, pessoal, material) e R$ 606,1 milhões é o que o Tesouro deixa de arrecadar em impostos com o horário eleitoral gratuito.
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LEIA AS REPORTAGENS DESTE ESPECIAL
Sou professor de ciência politica na Sorbonne e brasilianista. Muito obrigado para estas centenas de dados importantes, estas numerosas tabelas estatisticas reveladoras e estes bons artigos. Excelente initiativa da Folha. Parabens à Turma 54. Como tos dos os dias estava lendo a Folha online e quando vi esta mateira recebi ela com um maravilhoso presente de Feliz Ano Novo. Mais uma vez, muito obrigado.
… “como um maravilhoso presente…”
Que honra!
já começo discordando do primeiro método, onde, vcs disseram que 138,5 milhões de eleitores pagaram as eleições, quando eu creio que todo brasileiro, eleitor ou não, pagou, logo, 190 milhões de brasileiros pagaram de uma forma ou de outra. aí eu acho que o financiamento público de campanha, acabaria com o
obscurantismo que existe no pós campanha. o interesse seria coletivo e o eleito não ficará refém dos lobes que as empresas fazem nos corredores do congresso e gabinetes do executivo. é isso.
Ailton, o que mostramos foi o gasto proporcional aos 138,5 milhões de eleitores.