'Paitrocínio' ainda ajuda a garantir vitória
31/12/12 00:00BEATRIZ IZUMINO
GABRIELA BAZZO
LEONARDO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Num país em que público e privado muitas vezes se confundem, família ainda é fator de peso na hora do voto. Nas eleições municipais deste ano, não foi difícil encontrar candidatos financiados por parentes nem políticos que tentam aproveitar a onda de popularidade dos pais.
Entre os “paitrocínios” pelo Brasil afora, um dos mais emblemáticos foi o do candidato derrotado a prefeito de Curitiba Ratinho Jr. (PSC). Deputado federal pelo Paraná, o político contou com a ajuda não só financeira do pai, o apresentador de TV Ratinho, mas também com sua presença nos palanques da cidade.
“Foi uma experiência maravilhosa. Tem aquela velha história de que santo de casa não faz milagre. De repente, nos bairros da minha cidade, todo mundo me agarrando, me beijando, tirando fotografia. Para mim foi uma experiência maravilhosa, impagável”, afirmou o apresentador de TV.
Dos R$ 8.446.225 que financiaram a campanha de Ratinho Jr., R$ 467 mil foram doados diretamente pelo pai famoso. O valor representa 6% do que foi arrecadado pelo candidato, o que coloca Ratinho como o terceiro maior doador pessoa física da disputa para prefeito em Curitiba.
No entanto, a ajuda já foi maior: em 2010, Ratinho depositou R$ 988.500 na campanha do filho para a Câmara dos Deputados.
“Meu pai não participou em nenhum momento como cabo eleitoral, mas todas as suas participações na TV e no rádio foram de falar do filho, da preparação educacional que eu tive, da minha formação acadêmica de gestor de empresas. Isso foi fundamental, e claro que a popularidade dele também, de alguma maneira, me ajuda”, disse Ratinho Jr., que figurou como o maior doador individual do Paraná, injetando em sua própria campanha mais de R$ 3 milhões, cerca de 40% de todo seu patrimônio declarado.
Para o cientista social e professor da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Ricardo Costa de Oliveira, “se não fosse a figura do pai, Ratinho Jr. não seria o ator político que é”.
Para Oliveira, quando as relações familiares adquirem peso significativo numa campanha, pode-se falar em nepotismo. Lembrando que quase dois terços dos senadores no Brasil vêm de famílias tradicionais na política, o professor aponta um reforço na lei como forma de limitar a perpetuação de famílias no poder.
“Para uma democracia plural, renovada e de constituições fortes, há que limitar o nepotismo, ampliando os impedimentos e a ação de parentes e familiares . Se não, esse fenômeno passa a controlar e a colonizar as instituições políticas”, diz o professor.
No Rio de Janeiro, a máxima do “paitrocínio” se inverteu. O deputado federal Rodrigo Maia (DEM), candidato derrotado à prefeitura, doou ao pai, Cesar Maia (DEM), R$ 97.144 –cerca de 17% de tudo o que seu pai arrecadou.
Todas as transações ocorreram por meio do comitê eleitoral de Rodrigo, registrado como pessoa jurídica. Apenas para publicidade em dois jornais de grande circulação na capital fluminense foram repassados R$ 50 mil. Segundo Rodrigo, o trabalho com o pai ocorreu dentro da estratégia partidária, mas sem deixar as relações familiares prevalecerem.
“Trabalhamos juntos na campanha inteira. Onde eu não estava, ele estava fazendo a campanha por mim. Ele é o candidato da aliança, e não apenas do filho”, afirmou Rodrigo.
Na prática, não é isso o que se verifica. Enquanto Cesar foi agraciado com cerca de R$ 97 mil pelo filho, os outros dois vereadores eleitos do partido, Carlo de Caiado Castro e Carlos Alberto Cupello, receberam, respectivamente, R$ 1.625 e R$ 1.153 de Rodrigo.