Partido de Orlando Silva recebeu R$ 4,5 mi de empresas ligadas à Copa
31/12/12 00:00GASTÓN GUILLAUX
RAYANNE AZEVEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O PC do B arrecadou pouco mais de R$ 4,5 milhões para as eleições municipais deste ano com empreiteiras que têm contratos relacionados à Copa do Mundo de 2014. O valor doado à direção nacional do partido corresponde a 25% do total levantado pelo diretório nacional do partido: R$ 18 milhões.
Desde 2003, o Ministério do Esporte é gerido por membros da legenda. Nenhuma das empresas financiou o comitê do PC do B nas eleições municipais de 2008.
Em São Paulo, o ex-ministro do Esporte Orlando Silva ficou como suplente apesar de ser o quarto candidato com maior volume de financiamento na cidade: R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 720 mil vieram da direção do partido. Orlando perdeu o ministério em 2011 após denúncias de irregularidades em convênios, alguns deles com ONGs ligadas ao partido. Ele negou as acusações.
Com a convocação do eleito Netinho de Paula para a Secretaria da Igualdade Racial de Fernando Haddad (PT-SP), Orlando deve assumir uma vaga na Câmara em janeiro.
Além de Orlando, o partido elegeu neste ano outros 20 vereadores nas capitais brasileiras.
A Andrade Gutierrez, responsável pela obras nos estádios de Porto Alegre e Manaus, contribuiu com R$ 1,53 milhão. A empreiteira participa também da construção do estádio de Brasília e, no Rio de Janeiro, da reforma do Maracanã e das obras viárias do BRT (sistema de ônibus rápido).
A EIT Engenharia é a segunda empresa do ramo que mais doou ao partido: R$ 1,3 milhão. A empresa venceu licitações de obras de mobilidade urbana em Natal.
A OAS, responsável pelos estádios de Natal e Salvador (este em consórcio com a Odebrecht), contribuiu com R$ 700 mil. Diretamente para a campanha de Orlando Silva, ela doou R$ 100 mil.
A Cowan, que fará obras viárias em Belo Horizonte, e a Queiroz Galvão Oléo e Gás (subsidiária da construtora Queiroz Galvão) doaram R$ 500 mil cada uma. Esta última comanda obras de infraestrutura em Recife e também instala o sistema de drenagem da Arena das Dunas, em Natal.
Para a professora de direito constitucional da USP Mônica Herman Caggiano, os grandes aportes financeiros feitos por empresas para os partidos confunde interesses mercadológicos com interesses políticos.
“Se há evidência de que uma determinada categoria do mercado está investindo, a mera filantropia se transforma num investimento comercial, e isso se tornar um investimento comercial para favorecer um determinado setor é absolutamente irregular e cai naquela perspectiva do lobby, o lobby das entidades ligadas a desportos”, afirma.
Contatadas, Andrade Gutierrez, OAS e Cowan declararam que realizam doações eleitorais nas formas previstas em lei.
Até o fechamento desta edição, EIT Engenharia, Queiroz Galvão e o PC do B, procurados, não se manifestaram sobre o assunto.
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