Rússia - Com TV nas mãos do Estado, campanha favorece a situação
31/12/12 00:00GABRIELA BAZZO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No início do ano, durante a campanha à Presidência, a presença de Vladimir Putin na TV foi tão maciça que os telespectadores russos mal podiam zapear sem se deparar com a figura dele, que disputava sua volta ao Kremlin.
Não era só a exposição habitual do horário eleitoral. Segundo a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o então primeiro-ministro foi favorecido na TV ao ser mostrado como autoridade, como candidato e como personagem de “séries e documentários que enalteciam suas conquistas”.
Desde 1999, quando foi nomeado primeiro-ministro, Putin foi presidente do país e emendou o mandato de primeiro-ministro, cargo que ocupou até tomar posse mais uma vez como presidente, em maio deste ano.
Nas eleições de março, Putin venceu no primeiro turno com 63,6% dos votos, levando manifestantes às ruas contra o resultado da eleição.
Enquanto no Brasil o tempo na TV é proporcional aos votos obtidos na última eleição, o horário gratuito político na TV russa é dividido em igualdade de tempo entre todos os partidos e candidatos.
O uso da máquina pública, segundo o professor da USP Angelo Segrillo, autor do livro “Os Russos”, é o aspecto que mais “perturba” os observadores internacionais em relação ao sistema de financiamento de campanha da Rússia. “Esse recurso consiste em fazer propaganda inflada e disfarçada dos partidos da situação”, explica.
Para a professora de relações internacionais e coordenadora geral do Brics Policy Center, Adriana Erthal Abdenur, a forma como a mídia é usada nas eleições russas ajuda a entender as desigualdades do sistema eleitoral do país. “Na televisão, principal meio de divulgação durante as eleições, o governo, basicamente, controla o conteúdo”, afirma.
Os dois canais de televisão mais importantes da Rússia, o Primeiro Canal e o Rossyia, são controlados pelo governo. O terceiro maior canal, o NTV, é ligado, por sua vez, à Gazprom, a maior empresa extratora de gás natural do mundo, que tem como principal acionista o Estado russo.
“O financiamento de campanhas, no papel, parece ser um sistema justo, mas na prática há o controle governamental de um partido sobre as principais fontes midiáticas, o que favorece o candidato que já está no poder”, explica.