Folha de S.Paulo

Um jornal a serviço do Brasil

  • Assine a Folha
  • Atendimento
  • Versão Impressa
Seções
  • Opinião
  • Política
  • Mundo
  • Economia
  • Cotidiano
  • Esporte
  • Cultura
  • F5
  • Classificados
Últimas notícias
Busca
Publicidade

O Custo do Voto

Turma 54 do Programa de Treinamento percorre os caminhos do dinheiro na eleição

Perfil Projeto final da 54ª turma do Programa de Treinamento da Folha

Perfil completo

Professora 'hit' do YouTube arrecada pouco e tem votação recorde

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

RAYANNE AZEVEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Conhecida no país inteiro após um vídeo em que protestava contra a situação precária da educação no Rio Grande do Norte cair na internet, a professora Amanda Gurgel, 31, alcançou um feito raro para o PSTU: elegeu-se vereadora, em Natal, com votação recorde — quase um quinto dos cerca de 169 mil votos nominais.

A professora da rede pública de ensino ficou famosa em 2011 após o sucesso no YouTube de um vídeo em que se dirige aos deputados na Assembleia Legislativa, exibindo o contracheque de R$ 930 e desafiando-os a responder se conseguiriam “sobreviver ou manter o padrão de vida” com esse salário.

O resultado nas urnas também surpreende pelo baixo investimento em campanha. Amanda arrecadou R$ 53 mil, enquanto a média de recursos por vereador eleito no município foi de R$ 137 mil.

“Foi um voto de protesto, ainda que difuso, contra tudo: políticos, corrupção e a própria Câmara. Não creio que tenha sido um voto ideológico, porque o PSTU é muito sectário e tem uma base pequena de eleitores”, avalia o cientista político Antonio Spinelli, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Dois terços dos fundos que patrocinaram a candidatura da professora saíram do bolso de militantes do PSTU. Outros 20% vieram de recursos do fundo partidário.

“O cidadão comum não tem ainda a consciência de que é preciso contribuir financeiramente”, lamenta Dário Barbosa, presidente do diretório estadual do PSTU no RN. Para ele, Amanda foi um “fenômeno”, desses que “não acontecem todo dia”.

O partido diz não aceitar o apoio da iniciativa privada para não comprometer sua independência. “Tivemos uma oferta de uma empresa de fora do Estado, mas recusamos sem fazer alarde”, afirma Amanda.

Apesar dessa limitação e da dependência do fundo partidário, o volume arrecadado surpreendeu o partido. “Foi uma campanha franciscana, mas foi a mais estruturada que já fizemos”, diz Barbosa.

Além de Amanda, os outros quatro candidatos a vereador pelo PSTU somaram R$ 1.815 em doações.

A votação expressiva da professora ajudou a levar para a Câmara Municipal outros dois vereadores da coligação, os sindicalistas Marcos do Psol e Sandro Pimentel, ambos do Psol.

Nas eleições para vereador de Natal, o último fenômeno eleitoral havia sidoi Paulo Wagner, apresentador de televisão e atual deputado federal pelo PV, que obteve 14 mil votos em 2008.

ARRECADAÇÃO X VOTO

Quase dois terços dos assentos na Câmara de Natal foram preenchidos por candidatos que lideraram o ranking de arrecadações.

Somadas, as receitas de 19 dos 29 parlamentares eleitos chegam a R$ 3,6 milhões –o valor equivale a quase metade dos R$ 7,15 milhões arrecadados por todos os 304 postulantes ao cargo.

Os candidatos que preencheram as outras dez cadeiras, por sua vez, arrecadaram cerca de 10% desse valor: R$ 334,7 mil.

Uma vez eleita, a professora diz que abrirá mão de parte do seu salário de vereadora –atualmente fixado em R$ 15 mil. A parcela que ela receberá mensalmente ainda será definida em acordo com a direção do partido, que pretende aplicar o excedente nas atividades de gabinete.

“Vamos fixar um valor razoável”, diz Barbosa. Segundo Amanda, o que sobrar será usado na “construção da luta dos trabalhadores”. Mas o partido determinará as prioridades, completa ela.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Doação 'oculta' favorece independência do candidato, diz Ethos

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

GIULIANA DE TOLEDO
JOELMIR TAVARES
RAFAEL ANDERY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As doações ocultas, que representaram 71% da arrecadação dos candidatos a prefeito em capitais neste ano, são criticadas pela falta de transparência, mas têm defensores entre políticos, empresas e especialistas.

Nesse modelo de doação, o doador repassa dinheiro para partidos ou comitês financeiros montados especialmente para as eleições em vez de fazer a transferência diretamente para os políticos.

A prática não é ilegal, mas, ao tornar indireta a participação de empresas em campanhas eleitorais, dificulta que se rastreie a origem de possíveis tentativas de influenciar autoridades. Seus defensores, porém, as consideram benéficas por serem declaradas e teoricamente reduzirem a dependência direta dos candidatos em relação às empresas doadoras.

Reeleito com 97,5% da campanha financiada por meio de seu comitê financeiro, o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), foi o segundo que mais recebeu dinheiro via doações ocultas nas capitais.

O recebimento de doações desse tipo é uma prática corriqueira, segundo o coordenador da campanha de Fortunati, Edemar Tutikian. “A conta do comitê é a conta que funciona. Ela está interligada às contas do candidato e do partido, não é uma coisa isolada”, diz.

Para Tutikian, a crítica de que o repasse prejudica a identificação da origem do dinheiro não procede. “Não tem doador oculto”, afirma. “O Tribunal [Regional Eleitoral] não examina as contas em separado. Isso não é problema.”

Fortunati arrecadou em sua campanha pouco mais de R$ 6,2 milhões. Além do comitê financeiro de sua candidatura, há doações de mais quatro pessoas físicas e um repasse de R$ 150 mil do Itaú/Unibanco.

No total, quase R$ 340 milhões foram obtidos dessa forma nas eleições deste ano nas capitais.

Os partidos responderam por 47% dos repasses, enquanto os comitês financeiros representaram 24%. A origem dessas receitas só será conhecida no ano que vem, quando o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgar as prestações de contas de ambos.

A recordista em doações ocultas nas capitais foi a prefeita eleita de Boa Vista, Teresa Surita (PMDB), que teve 100% dos recursos (R$ 1,9 milhão) obtidos por meio de doações da diretoria estadual de seu partido.

A reportagem procurou a assessoria da candidata durante cinco dias em busca de informações sobre o financiamento de sua campanha, mas não obteve resposta.

DEPENDÊNCIA

Manual publicado em agosto pelo Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social –ONG que reúne 1.503 empresas com faturamento anual correspondente a cerca de 35% do PIB brasileiro– alerta para o risco de financiar candidatos, em vez de partidos, especialmente em eleições para o Legislativo.

“Deve-se ter em mente que o financiamento de um candidato aumenta o risco de dependência entre ele e seu doador. Muitas vezes, pela própria estrutura de financiamento de campanhas no Brasil, o candidato depende de poucos financiadores, criando situações pouco saudáveis em relação à sua independência depois de eleito”, afirma a cartilha.

As principais recomendações do documento são que as empresas não apoiem partidos ou candidatos com histórico de corrupção, doem de acordo com a lei, privilegiando a transparência do financiamento, e não busquem vantagens indevidas.

Gerente de políticas públicas do Ethos, o sociólogo Caio Magri defende uma redução drástica da participação empresarial no processo eleitoral, embora não saiba apontar um modelo ideal de financiamento.

“As doações de empresas para partidos políticos e candidatos são o ovo da serpente da corrupção”, diz Magri.

A doação a partidos, em vez de candidatos, é a política do Grupo Marquise, que doou R$ 2,2 milhões neste ano.

Desse total, só R$ 50 mil (2%) foram destinados diretamente a candidatos. Os demais recursos foram repassados a diretórios e comitês de quatro legendas.

“Todo esse processo de ajuda de campanha ainda está sendo muito discutido no país. Então, a melhor maneira é ajudar diretamente o partido político”, diz Hugo Nery, diretor de operações do Marquise.

O grupo cearense, que tem contratos públicos em cidades como Porto Velho (RO), é formado por dez empresas de áreas como engenharia, coleta de lixo e incorporação imobiliária.

Para o cientista político Wagner Pralon Mancuso, da USP, é preciso ter cuidado com o uso do termo “doações ocultas”, já que não se pode afirmar sempre que a prática tem o objetivo de esconder a origem e o destino do dinheiro.

“Não há como saber em que medida é uma doação oculta ou simplesmente uma doação para o partido. Para ser oculta, precisaria ser uma doação já ‘carimbada’, em que a empresa quisesse evitar um vínculo com determinado candidato e escondesse essa relação com a intermediação do partido.”

Colaborou MIGUEL MARTINS

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Fernando Gabeira: 'Uma campanha, numa cidade grande, poderia custar R$ 5 milhões'

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

LEONARDO VIEIRA
RAYANNE AZEVEDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Afastado do mundo da política desde dezembro de 2010, quando seu mandato de deputado federal pelo Rio de Janeiro chegou ao fim, Fernando Gabeira pode voltar a exercer a profissão de jornalista e olhar com calma para o passado, num momento de autoavaliação dos mais de 50 anos de militância. Desse exercício saiu seu mais novo livro, “Onde Está Tudo Aquilo Agora?” (Cia. das Letras), lançado em dezembro.

Adriano Vizoni – 5 jul. 2012/Folhapress

Em entrevista à Folha, Gabeira diz o que pensa sobre financiamento de campanha no Brasil e é categórico sobre a necessidade de limitar doações. “Eu acho que uma campanha, numa cidade grande, poderia custar R$ 5 milhões”, afirmou.

FOLHA – Qual sua avaliação sobre o sistema brasileiro de financiamento de campanhas?
FERNANDO GABEIRA – Acho que está muito limitado aos empresários e às empresas. Quem financia as campanhas no Brasil de modo geral são as empresas, sejam construtoras ou não. Nas minhas campanhas de 2008 e de 2010, nos empenhamos junto ao TSE para que fosse permitida a doação pela internet, algo que demorou muito no Brasil. Uma das formas possíveis de financiamento de campanha é essa: pessoas que querem participar contribuem com algum dinheiro. Isso permite certa independência. Uma vez que a origem das doações seja bem distribuída, você fica mais independente no seu mandato.

Em que medida o volume de recursos garante o sucesso de uma candidatura? Qual a relação entre financiamento e cacife político?
Não se pode dizer que o volume de dinheiro determine uma eleição. Há muita gente que gastou muito dinheiro e perdeu. Mas existem gastos essenciais mínimos que são necessários para quem quer ganhar uma eleição. Nesses gastos eu coloco os com programa de televisão gratuitos, que são os mais pesados.

Por que ficou mais caro ser candidato após a redemocratização, nos anos 80? Como isso impactou o financiamento de campanhas?
Ficou mais caro porque houve um momento em que era possível ser candidato apenas como um candidato de opinião, ou seja, aquele que tem uma necessidade menor de fazer propaganda e necessidade maior de dizer que é candidato e contar com o voto das pessoas que já o conhecem. Mas, com o tempo, o próprio espaço dos candidatos de opinião foi reduzido. A TV ainda desempenha um papel predominante, e os preços dos programas de TV são muito caros, abusivos. Sem falar nos marqueteiros que fazem análises e cobram muito dinheiro.

Que vantagens há para uma empresa em financiar candidaturas?
Depende. Há uma diversidade muito grande de interesses. Algumas empresas afirmam que são interessadas pela democracia, pelos debates de ideias e pelas escolhas de candidatos. Outras têm expectativas de poder influenciar o candidato já vitorioso. Outras que já trabalham com o governo têm a expectativa de manter contratos e fechar outros. E existe uma faixa de empresários que apoia uma candidatura por achar que ainda vale a pena colocar aquelas ideias em debate, mas essa parcela é muito pequena.

O que é o caixa dois, em sua opinião, e como combatê-lo?
Muita gente afirma que o caixa dois é o resultado da falta de financiamento público de campanha. Mas nós já tivemos uma experiência na Alemanha, onde, apesar da existência do financiamento público de campanha, houve caixa dois, o que arruinou a carreira política de Helmut Kohl, que era chanceler no período da reunificação. Então, a partir de um certo momento, o tribunal passou a exigir que se declarasse as despesas com muita precisão. E essas despesas, de um modo geral, são mostradas na internet. Então o caixa dois é tudo aquilo que se recebeu e gastou, mas que não foi declarado ao tribunal nem na internet.

Por que, em sua opinião, muitas empresas têm preferido doar aos partidos a doar diretamente aos candidatos?
É a forma que elas encontram de não se responsabilizar ou se vincular diretamente a uma determinada candidatura. É a forma que ela tem de dizer “eu dou para o partido, e ele distribui para os candidatos que achar conveniente”. Às vezes isso acontece de fato, às vezes é uma forma de a empresa doar para o candidato sem querer necessariamente aparecer como apoiando especificamente o candidato. O ideal seria que fosse apoiado o candidato. Mesmo porque, em certos momentos, o candidato nunca sabe quanto de dinheiro o partido recebeu e quanto ele vai receber também. Se uma doação é voltada para uma candidatura, seria conveniente que ela fosse especificada para que primeiro se soubesse que empresa apoia aquela candidatura e segundo para que o candidato soubesse de quem ele recebeu aquele dinheiro.

Como o senhor avalia os mecanismos de fiscalização e regulamentação de financiamento de campanha existentes hoje no Brasil?
Acontece que a gente nunca tem uma visão muito clara. O mecanismo de fiscalização é muito voltado para as contas que aparecem, mas tem muitas formas de enganá-lo como por exemplo utilizando gráficas fantasmas como aconteceu no Rio de Janeiro. Algumas empresas lavam o dinheiro, não chegam a prestar os serviços que são feitos ali. Então é muito difícil, no mecanismo de fiscalização, não só examinar os gastos mas também examinar se os serviços mencionados naquela prestação de contas foram realmente realizados. A fiscalização já existe a respeito das contas prestadas. É necessário que exista uma relação clara entre as contas prestadas e o serviço feito. E isso exige mais gente e mais capacidade no processo de fiscalização.

Qual sua opinião para os limites de despesas e arrecadação de campanha? Deve haver limite?
Os limites são antecipados pelo próprio candidato. De modo geral, o candidato expressa um limite que ele pode arrecadar. Eu acho que pode e deve haver limites para arrecadação de campanha. Acho até que para os candidatos de opinião seria uma coisa boa, porque não há dinheiro para fazer uma campanha se você não está ligado a grandes empreiteiras e empresas desse tipo. O limite numa eleição municipal é muito dado pelo processo que o candidato conduz. Há processos com empresas de marketing formulando um programa de televisão, que trabalha com pesquisas qualitativas, que tem uma estrutura, uma distribuição… Uma campanha majoritária costuma também fazer o material de propaganda conjunto de campanhas proporcionais. Com tudo isso, eu acho que uma campanha , numa cidade grande, custaria minimamente R$ 5 milhões. Agora eles gastam R$ 40 milhões, R$ 50 milhões.

Que avanços no acompanhamento e no controle das eleições ocorridos no último quarto de século o sr. considera mais significativos?
O marco mais significativo foi a introdução do voto eletrônico. Apesar de ele ser ponderável em alguns aspectos, simplificou muito o processo e conseguiu fazer com que as eleições fossem apuradas muito rapidamente.

Qual sua opinião sobre o financiamento público de campanha?
Acho que, se há um limite, você deveria fazer como os EUA: permitir também que as pessoas buscassem o financiamento junto a simpatizantes. E a pessoa pudesse optar entre usar o financiamento público ou usar o financiamento que os simpatizantes estão dando. Não os dois, evidentemente. Ou um, ou outro. Eu acho que a combinação do financiamento público com o privado poderia ocorrer por meio desse processo: você determina um limite, a pessoa alcançando o limite com simpatizantes da campanha, pela internet e tal, ela pode dispensar a ajuda oficial.

Como envolver o eleitor na fiscalização das campanhas?
É muito difícil que o eleitor seja envolvido, mas uma vez você tendo um grupo de voluntários, simpatizantes, participando do processo, eles normalmente ficam atentos. Através de uma organização em rede, internet e redes sociais, você consegue formar um grupo de pessoas que contribua com a fiscalização. Mas, por mais que você avance nisso, a fiscalização precisa também de ter uma estrutura própria. Os crimes eleitorais são muito grandes, acontecem demais. Desde a maneira como se utiliza o espaço urbano, com propaganda em locais proibidos, até maneira também como as pessoas se utilizam de vazios de alguns momentos eleitorais para aparecer com eleitores fantasmas. Acho que o TRE precisa avançar muito ainda em termos tecnológicos e de recursos humanos.

No que se refere ao financiamento de campanha, como o sr. avalia a participação do eleitor como doador?
Eu tive uma boa experiência em 2008, houve muita doação particular. Mas, como eu disse, naquele momento ainda não tínhamos conseguido convencer o TSE a adotar o sistema de doações pela internet, que já vigorava nos EUA há alguns anos. Nós ficamos limitados apenas aos doadores com os quais tivemos contato físico, e esse campo é limitado. Agora, no Brasil já é possível explorar essa possibilidade de doações pela internet. Acho que isso depende do crescimento do entusiasmo pelas candidaturas. Nos EUA, por exemplo, havia já o financiamento via internet, mas foi com Obama que ele ganhou uma dimensão maior porque havia também mais entusiasmo pela campanha dele.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Petebista doa quase todo patrimônio à campanha e é investigado em GO

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

MIGUEL MARTINS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em sua prestação de contas, o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes, declarou ter doado R$ 3,1 milhões do próprio bolso para sua campanha a prefeito de Goiânia. O que levantou suspeitas das autoridades é o fato de que mais da metade do patrimônio declarado pelo deputado à Justiça Eleitoral – R$ 3,7 milhões – corresponde a imóveis e um carro.

A Folha apurou que auditores do TRE-GO estão averiguando se há incompatibilidade entre o patrimônio declarado e o montante que Arantes diz ter investido na campanha.

Como a soma de suas aplicações financeiras e de dinheiro em espécie não ultrapassava R$ 1,8 milhão à época da declaração, Arantes teria de ter vendido casas e terras para financiar sua candidatura. Outra hipótese é o deputado ter obtido parte dos recursos após declarar seu patrimônio.

“O período eleitoral é curto, em que supostamente o candidato está entregue à campanha. Ele não está desenvolvendo outras atividades particulares, então é difícil dar um salto patrimonial nesses três meses”, afirmou o promotor do Ministério Público de São Paulo Marcelo Daneluzzi.

Segundo o promotor, que desconhece casos semelhantes ao de Arantes, não há limites para o uso de recursos próprios em campanha, mas o candidato que não conseguir justificar suas contas pode ser processado. Se condenado, pode ficar inelegível por oito anos.

“Em um caso como esse, podem-se acumular duas coisas: irregularidade no financiamento e também da própria campanha, que de alguma forma pode ter tornando o embate de ideias políticas menos importante do que o poder econômico”, afirma.

Procurado, o deputado disse, por meio de sua assessoria, que não iria se pronunciar sobre o tema.

INVESTIMENTO PRÓPRIO

Apesar de todo esse investimento, Arantes perdeu a disputa ainda no primeiro turno para o petista Paulo Garcia, que obteve 57,7% dos votos –ante 14% do petebista. O líder do PTB terminou a campanha com uma dívida de R$ 672 mil.

Em 2010, quando se elegeu deputado federal pela quinta vez, Arantes também usou recursos próprios. Além de investir R$ 50 mil em sua candidatura, declarou ter emprestado para a campanha um jato de sua propriedade durante 60 horas, a um valor estimado de R$ 96 mil. Mas a aeronave não constava na declaração patrimonial do líder do PTB.

Jovair Arantes começou sua carreira política como vereador pelo PMDB, mas migrou para o PSDB –partido que ajudou a fundar na capital goiana– em 1989. Saiu em 2003, aproximando-se do governo Lula. Após tratativas para ingressar no PT, acabou filiando-se ao PTB, onde está desde então.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Votação versus arrecadação

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

Confira abaixo a votação e a arrecadação dos candidatos a vereador de todas as capitais do Brasil. Selecione a capital para ver as diferenças de escala na votação dos candidatos. Também é possível ver as diferenças partido a partido em cada capital. Rolando a página, estão os rankings por votação e por volume de recursos arrecadados. Estão incluídos no infográfico apenas os candidatos que declararam sua arrecadação. Os que aparecem com zero votos geralmente tiveram sua candidatura contestada na Justiça.

(O infográfico é melhor acessado nos browsers Firefox, Chrome, Safari e Internet Explorer 9.)

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Em São Luís, nanicos ganham maioria à base de favores

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

DANIEL LOMONACO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Candidatos eleitos por partidos nanicos levaram a maior parte das cadeiras na Câmara Municipal de São Luís (MA) gastando bem menos do que legendas médias e grandes. Houve economia tanto nas arrecadações quanto no valor gasto por voto obtido. O segredo, segundo os futuros vereadores, é contar com favores de amigos.

São Luís é a capital brasileira com maior percentual de vereadores eleitos por partidos pequenos (58%). Das 31 cadeiras disputadas nas eleições de 2012, 18 ficaram com 10 partidos de pouca expressão nacional. Desses, 14 vereadores gastaram menos de R$ 20 por voto.

Apenas dois candidatos eleitos por partidos maiores gastaram tão pouco: um do DEM e outro do PPS.

Para o professor de história da UFMA (Universidade Federal do Maranhão) Wagner Cabral, a morte de Jackson Lago, o maior nome da política local, levou à alta pulverização partidária em São Luís. Lago foi três vezes prefeito da capital maranhense e se elegeu governador em 2006, pelo PDT, mas o partido se dividiu após sua cassação e morte, em 2009 e 2011, respectivamente.

Sem aportes de empresas nem do partido, Ricardo Diniz, do PHS, foi o vereador eleito que menos gastou (R$ 15.750) e que teve a melhor relação de gasto por eleitor (R$ 5,27). Ele obteve 2.987 votos.

Diniz usou suas economias e contou com a ajuda de amigos. As duas maiores doações foram estimadas em R$ 4.000 e não envolveram pagamento direto –são favores como empréstimo de um carro e outros tipos de ajuda voluntária. “Nas eleições de 2008, gastei mais do que agora e não fui eleito”, afirma.

Segundo ele, no período em que dirigiu o Hospital da Criança de São Luís, entre
2009 e 2011, ganhou a confiança dos usuários do sistema público de saúde. “A partir do momento que a população se sente bem atendida, ela dá um retorno, que no meu caso foi por meio de votos.”

MAIORIA NA CÂMARA

O PT do B tem apenas três deputados federais e nenhum senador em Brasília, mas estará entre os partidos mais presentes na Câmara de São Luís em 2013, com três vagas. Conquistou tantas cadeiras quanto o PSDB e o PDT.

Eleito pelo PT do B, Manoel Rego dos Santos também gastou pouco por seus 4.048 votos. Ele declarou ter arrecadado R$ 38.915, oitavo menor custo por voto (R$ 9,61), mas não recebeu nenhum centavo sequer. Segundo sua prestação de contas à Justiça Eleitoral, todas as doações foram estimadas. “Tudo o que está declarado foi ajuda de amigos que acreditaram em mim e emprestaram carro, bancaram a gasolina e me ajudaram com outras coisas”, diz.

Segundo Santos, a falta de dinheiro foi compensada pelo prestígio que adquiriu durante o tempo em que prestou serviços para a Secretaria Municipal de Planejamento, entre 2009 e 2012, quando ajudava na marcação de cirurgias e consultas.

Para Cabral, as campanhas de partidos grandes e pequenos não são diferentes. “O padrão usual de eleição para a Câmara é o de candidaturas montadas em fortes esquemas clientelísticos, com prefeitos contratando gente indicada por vereadores”, afirma.

PEQUENO, MAS NEM TANTO

Diferentemente de Santos, a candidata a vereadora e presidente do PT do B maranhense, Luciana Mendes, foi eleita com ajuda da legenda. Dos R$ 133,5 mil arrecadados por ela, R$ 30 mil vieram da direção nacional do partido. Mesmo gastando quase 3,5 vezes mais, Luciana obteve menos votos do que o correligionário: 3.758, a R$ 35 por voto.

Segundo ela, a diferença na performance eleitoral se deve ao perfil de cada candidato. “Ele é um líder comunitário que presta serviços à comunidade há muito tempo”, diz. Luciana admite ainda que o fato de ser filha de Lourival Mendes, deputado federal pelo PT do B, ajudou na obtenção de apoio à sua campanha.

Procurado, Lourival não respondeu os telefonemas da reportagem.

Para o cientista político Carlos Ranulfo, coordenador do Centro de Estudos Legislativos da UFMG, partidos pequenos como Psol e PC do B, que “representam ideologias e têm programas partidários sérios”, não podem ser misturados ao restante dos nanicos.

“Os nanicos são partidos que geralmente têm donos que controlam as legendas. O crescimento dessas siglas transforma as Câmaras em sessão de varejo. Não são partidos reais, somente atuam no toma lá dá cá e não têm nível de representatividade algum”, critica.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

EUA - Doações a grupos ‘independentes’ patrocinam ataques

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

BEATRIZ IZUMINO
LEONARDO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Uma das estrelas da corrida presidencial norte-americana de 2012 foram os Super PACs –comitês formalmente desvinculados de partidos políticos que podem coletar dinheiro para fazer campanha contra candidatos que repudiem. Dentre as mais de mil unidades do gênero, estão o Restore our Future, anti-democrata, e o Priorities USA Action, anti-republicano.

Foram os Super PACs que financiaram as propagandas difamatórias sugerindo que o presidente Barack Obama não é americano e que o republicano Mitt Romney dirigiu até o Canadá com um cachorro preso sobre o teto do carro.

O republicano Mitt Romney cumprimenta o democrata Barack Obama no Salão Oval, na Casa Branca, após os resultados da eleição presidencial

Nas últimas eleições, esses grupos declararam uma arrecadação de US$ 789 milhões (R$ 1,6 bi) para operarem, na prática, como linha de apoio informal dos dois lados da disputa. As campanhas oficiais de Barack Obama e Mitt Romney declararam, por sua vez, terem recebido ao todo US$ 2 bilhões (R$ 4,1 bilhões).

Para Paul Seamus Ryan, conselheiro sênior do Campaign Legal Center, ONG que defende a transparência nas eleições americanas, os Super PACs corrompem o sistema eleitoral. “Apesar de se esperar que esses grupos ajam independentemente dos candidatos, as leis que definem essa ‘independência’ são ineficientes”, disse.

Esse tipo de comitê surgiu com uma mudança na interpretação da lei. Em 2010, o grupo ultraconservador Citizens United foi à Justiça para pedir o fim dos limites legais às contribuições de corporações, sindicatos e cidadãos. A Suprema Corte entendeu que opinar nas eleições faz parte da liberdade de expressão garantida pela Constituição.

A criação dos Super PACs reverteu medidas implantadas desde 1971 para tornar o financiamento de campanhas mais transparente e tentar reduzir a disparidade de captação de fundos.

Embora fossem proibidas as doações diretas por entidades como sindicatos e empresas, era possível criar comitês de ação política (PAC, na sigla em inglês) para arrecadar recursos dentro de limites estabelecidos e doar declaradamente às campanhas. Os Super PACs estão dispensados desses limites de doações, mas devem ser independentes do partido que, na prática, apoiam.

Criada depois da renúncia do presidente Richard Nixon em 1974, devido ao escândalo de Watergate, a Federal Election Commission tem entre seus principais papeis a administração de fundos públicos de campanha, coletados a partir de doações voluntárias de contribuintes em seu imposto de renda, e a fiscalização das doações feitas por entidades privadas às campanhas.

Desde a pré-campanha eleitoral, no período das primárias, a FEC identifica na internet praticamente em tempo real os nomes de doadores e valores de todas as contribuições a candidatos e pré-candidatos. Doadores aos PACs e Super PACs também são identificados.

Há uma exceção, porém: grupos conhecidos como 501(c)(4), organizações sem fins lucrativos que defendem causas sociais –legalmente equiparados a igrejas e associações ecológicas– podem gastar até 50% de seu orçamento com ativismo político sem precisar revelar à FEC a identidade dos seus doadores.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Partido de Orlando Silva recebeu R$ 4,5 mi de empresas ligadas à Copa

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

GASTÓN GUILLAUX
RAYANNE AZEVEDO

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O PC do B arrecadou pouco mais de R$ 4,5 milhões para as eleições municipais deste ano com empreiteiras que têm contratos relacionados à Copa do Mundo de 2014. O valor doado à direção nacional do partido corresponde a 25% do total levantado pelo diretório nacional do partido: R$ 18 milhões.

Desde 2003, o Ministério do Esporte é gerido por membros da legenda. Nenhuma das empresas financiou o comitê do PC do B nas eleições municipais de 2008.

Em São Paulo, o ex-ministro do Esporte Orlando Silva ficou como suplente apesar de ser o quarto candidato com maior volume de financiamento na cidade: R$ 2,5 milhões, dos quais R$ 720 mil vieram da direção do partido. Orlando perdeu o ministério em 2011 após denúncias de irregularidades em convênios, alguns deles com ONGs ligadas ao partido. Ele negou as acusações.

Lula Marques – 25.out.11/Folhapress

Com a convocação do eleito Netinho de Paula para a Secretaria da Igualdade Racial de Fernando Haddad (PT-SP), Orlando deve assumir uma vaga na Câmara em janeiro.

Além de Orlando, o partido elegeu neste ano outros 20 vereadores nas capitais brasileiras.

A Andrade Gutierrez, responsável pela obras nos estádios de Porto Alegre e Manaus, contribuiu com R$ 1,53 milhão. A empreiteira participa também da construção do estádio de Brasília e, no Rio de Janeiro, da reforma do Maracanã e das obras viárias do BRT (sistema de ônibus rápido).

A EIT Engenharia é a segunda empresa do ramo que mais doou ao partido: R$ 1,3 milhão. A empresa venceu licitações de obras de mobilidade urbana em Natal.

A OAS, responsável pelos estádios de Natal e Salvador (este em consórcio com a Odebrecht), contribuiu com R$ 700 mil. Diretamente para a campanha de Orlando Silva, ela doou R$ 100 mil.

A Cowan, que fará obras viárias em Belo Horizonte, e a Queiroz Galvão Oléo e Gás (subsidiária da construtora Queiroz Galvão) doaram R$ 500 mil cada uma. Esta última comanda obras de infraestrutura em Recife e também instala o sistema de drenagem da Arena das Dunas, em Natal.

Para a professora de direito constitucional da USP Mônica Herman Caggiano, os grandes aportes financeiros feitos por empresas para os partidos confunde interesses mercadológicos com interesses políticos.

“Se há evidência de que uma determinada categoria do mercado está investindo, a mera filantropia se transforma num investimento comercial, e isso se tornar um investimento comercial para favorecer um determinado setor é absolutamente irregular e cai naquela perspectiva do lobby, o lobby das entidades ligadas a desportos”, afirma.

Contatadas, Andrade Gutierrez, OAS e Cowan declararam que realizam doações eleitorais nas formas previstas em lei.

Até o fechamento desta edição, EIT Engenharia, Queiroz Galvão e o PC do B, procurados, não se manifestaram sobre o assunto.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Em Palmas, filho de senadora tem o voto mais caro das capitais

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

GASTÓN GUILLAUX
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Eleito vereador com 2.144 votos em Palmas, Iratã Abreu (PSD) assumirá uma vaga na Câmara Municipal após receber quase o triplo de doações que Emerson Gonçalves Coimbra (PMDB), o segundo candidato que mais arrecadou na cidade.

Com uma receita de R$ 906.432, segundo declaração ao TSE, o filho da senadora Kátia Abreu –licenciada do cargo desde outubro por motivos pessoais– gastou R$ 423 por eleitor conquistado, o maior valor por voto no Brasil.

O valor arrecadado foi o maior entre os 19 vereadores eleitos em Palmas. Quase metade veio em doações feitas por meio do seu partido, em transferências eletrônicas.

Iratã também recebeu R$ 110 mil do senador Marco Antônio Costa (PSD-TO), suplente de Kátia Abreu. Logo após o senador, o ranking é liderado por empresas: Santo Expedito Terraplanagem (R$ 100 mil), Sucocítrico Cutrale (R$ 50 mil) e Indiapora Engenharia Indústria e Comércio Ltda (R$ 36 mil).

Em entrevista por e-mail, o vereador lembrou que toda a arrecadação ocorreu de acordo com a lei e que “pessoas físicas e jurídicas têm a prerrogativa legal de fazer doações para campanhas eleitorais e, é claro, decidirem a quem fazê-lo”.

Sobre a campanha de Iratã, Lutero Fonseca, presidente do PSD de Palmas, afirmou que sua grande arrecadação vem de sua “rede de relacionamentos e amigos”, que lhe dá maior capacidade de conseguir recursos para o partido e para si mesmo.

“Geralmente o que acontece no país inteiro é o seguinte: aquele que estiver mais articulado e consegue mais captação para o partido recebe mais”, afirma.

A empresa Sucocítrico Cutrale declarou que “realiza doações a campanhas eleitorais sempre respeitando a legislação vigente”.

Até a conclusão desta reportagem, a Indiapora Engenharia não respondeu aos contatos feitos. Não foram localizados os responsáveis pela Santo Expedito Terraplanagem. Também não foi possível contatar a Santo Expedito Terraplanagem.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor

Bruno Speck: 'Limites para doações hoje são irrelevantes'

Por Marcelo Soares
31/12/12 00:00

RAFAEL ANDERY
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Brasil avançou em alguns aspectos do financiamento eleitoral, mas ainda precisa ser mais rigoroso no controle sobre doações privadas para candidaturas. Essa é a opinião de Bruno Wilhelm Speck, doutor em ciência política e chefe do Departamento de Ciência Política na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Marcos Santos – 1 nov. 2012 / USP Imagens

Para o especialista em financiamento eleitoral, contudo, o legislador deve agir com cuidado na hora de implementar novas regras. Speck é categórico ao afirmar que novas leis são inúteis se não houver uma fiscalização efetiva de seu cumprimento, como no caso de limitação para os gastos de campanha. “O legislador deve pensar duas vezes antes de estabelecer um teto, e quatro ou cinco vezes sobre as reais possibilidades de se fazer cumprir essa regra”, afirma o cientista político.

FOLHA – Qual sua avaliação sobre o sistema brasileiro de financiamento de campanhas?
BRUNO SPECK – O Brasil hoje se encontra em uma encruzilhada. O cidadão é amplamente informado sobre o padrão de financiamento das eleições. Ele é servido diariamente de uma imagem da política brasileira que a caracteriza como um processo plutocrático, onde aquele que tem mais recursos manda mais. O eleitor acaba lendo nas manchetes que o processo eleitoral precisa de dinheiro, e que esse dinheiro vem de alguns poucos atores do mundo dos negócios privados. Isso é a realidade, e a médio prazo pode minar a legitimidade do processo democrático no Brasil. O legislador brasileiro deve agora discutir maneiras de se apertar o controle sobre os financiamentos privados.

Em que medida o volume de recursos garante o sucesso de uma candidatura? Qual a relação entre financiamento e cacife político?
Francamente, não sabemos. A ciência política conseguiu estabelecer uma correlação clara entre voto e dinheiro, mas é necessário ainda esclarecer a direção da causalidade: dinheiro produz voto ou a expectativa do voto produz dinheiro? Esclarecer essa questão será um desafio para os próximos anos. Alguns políticos possuem recursos que não são financeiros, e sim decorrentes de uma vinculação a sindicatos ou igrejas, por exemplo. Isso gera recursos não monetários, como a mobilização de simpatizantes. Alguns candidatos também são conhecidos em virtude de aparições na TV, ou qualquer outro tipo de mídia, o que já constitui um recurso não monetário que acaba influenciando nos resultados eleitorais. São casos específicos.

Em que aspectos ficou mais caro ser candidato desde a redemocratização, nos anos 80? E como isso impactou o financiamento de campanhas?
Muitos aspectos da campanha foram monetarizados, o que é uma tendência internacional. Pessoas que participam de passeatas, ficam com bandeiras na rua, eram todas voluntárias no passado; hoje são pagas. Existe uma tendência de profissionalização das campanhas. Alguns serviços ficaram mais caros, como as pesquisas prévias. É uma convergência de fatores, como a profissionalização e a monetarização. No Brasil, desde 2002 temos prestações de contas cada vez mais completas e fidedignas, o que torna mais difícil medir se o aumento do “caixa um” decorre de uma declaração mais detalhada ou do próprio encarecimento da campanha.

Que vantagens há para uma empresa em financiar candidaturas?
Falar em vantagens já exclui as doações por afinidade ideológica. Do ponto de vista puramente interesseiro, existem dois tipos de vantagens. Primeiro, a empresa consegue apoiar candidatos que se identificam com os interesses do setor. Financiando esses candidatos, você financia a política que quer ver implementada no país. A segunda vantagem é mais direta; diz respeito às relações de uma empresa com políticos individuais. Ela garante o acesso a um político que toma decisões quando eleito. Para além disso, você pode até especular que a empresa vise comprar decisões. Entre ser ouvido e comprar a decisão existe uma grande gama de influências que a empresa pode exercer.

O que é o caixa dois, em sua opinião, e como combatê-lo?
Caixa dois é a suposição dos observadores de que os dados prestados à Justiça Eleitoral não estejam corretos. Para combatê-lo, devem-se tomar duas medidas: tornar as sanções mais severas em caso de caixa dois e contratar um outro perfil de fiscais, menos da área do direito e mais da contabilidade, para fiscalizar as contas dos partidos.

Por que, em sua opinião, muitas empresas têm preferido doar aos partidos a doar diretamente aos candidatos?
Os partidos políticos em muitos aspectos ampliaram o seu papel em relação aos candidatos. Os eleitos são relativamente obedientes aos partidos. Em relação ao financiamento, temos um fenômeno parecido. Os partidos tentam absorver grande parte do dinheiro para depois transferi-los aos seus candidatos. Através disso, eles condicionam seus candidatos, apoiam aqueles que acham mais importantes e penalizam os infiéis, que não votam na linha partidária. Algumas organizações que pregam a moralidade e a atuação responsável das empresas também recomendam isso, como o Instituto Ethos. Se uma empresa doa R$ 100 mil para o candidato, e ele recebeu R$ 1 milhão, ela tem mais influência sobre esse candidato do que se doasse para um partido que arrecada 10 milhões. No cálculo de risco, se a finalidade é desvincular candidatos da empresa, é mais lógico utilizar uma doação indireta.

Como o sr. avalia os mecanismos de fiscalização e regulamentação (do financiamento de campanha) existentes hoje no Brasil?
No quesito transparência, o Brasil avançou muito. Numa comparação internacional, só o fato de termos acesso ao caixa um já é um avanço muito grande. Saber detalhadamente a origem e o destino desse dinheiro já é uma fonte enorme para entender a política brasileira. Ao analisar os órgãos de controle, porém, podemos dizer que o Brasil avançou, mas que ainda existe muito chão pela frente. A Justiça Eleitoral é muito estável, conseguiu modernizar o processo eleitoral, mas ainda não dispõe de um corpo de auditores grande o suficiente para fazer valer as regras do financiamento privado de campanhas. O perfil deles também é muito voltado para o direito, quando deveria dar mais importância para a contabilidade. Além disso, as penas para prestações de contas não fidedignas ainda são muito pequenas. Quem não declara metade de sua arrecadação deveria, no limite, perder o mandato, e não apenas realizar uma retificação.

Qual a sua opinião sobre limites para arrecadação ou despesas de campanha?
Os limites para doações hoje adotados são praticamente irrelevantes. Nesse aspecto, pode-se dizer que o Brasil retrocedeu, mas por causa de uma experiência prévia negativa que era o não cumprimento das leis que impunham limites. Os limites são meios poderosos para tornar o processo eleitoral mais igual no Brasil. Limitar a arrecadação iguala cidadãos e empresas em sua capacidade de influenciar o processo eleitoral. Já a limitação de gastos torna os candidatos mais iguais, pois estabelece um teto fixo para todos cumprirem. Um dos problemas talvez seja pensar num valor justo para o teto, que seja baixo o suficiente para tornar os candidatos mais iguais, mas não tão baixo que inviabilize as campanhas políticas em algumas localidades. Outro desafio é fazer cumprir a regra. O legislador deve pensar duas vezes antes de estabelecer um teto, e quatro ou cinco vezes sobre as reais possibilidades de se fazer cumprir essa regra.

Que avanços no acompanhamento e controle das eleições ocorridos no último quarto de século o sr. considera mais significativos?
Pode-se dizer que estabeleceram-se menos regras e apostou-se mais no cumprimento das que existem. Em 1992, houve a CPI do Collor, depois leis específicas para cada eleição. Foi um ciclo de reformas que implementou essas regras, culminando na lei eleitoral de 1997. Depois disso vem outro ciclo de reformas que não é legislativo. A Justiça Eleitoral mudou as regras de implementação e interpretação daquelas leis. Introduziu-se a prestação de contas eletrônica, a incorporação dos partidos como organizações que devem prestar contas no mesmo formato dos candidatos e a divulgação das prestações antes do dia da eleição.

Qual sua opinião sobre financiamento exclusivamente público de campanhas?
Tenho dúvidas sobre esse modelo. Acho pouco provável que, com a atual capacidade de fiscalização, essas regras sejam cumpridas. As sanções deveriam ser mais severas, o corpo de auditores deveria ser fortalecido. As regras não devem ser tão rigorosas quanto em 1992, mas passo a passo devem ser apertadas. Financiamento público exclusivo é complicado. Pela sua lógica, quem teve mais votos no passado terá mais recursos no futuro, o que congela a competição eleitoral. Partidos novos teriam chances reduzidas, e não haveria oportunidade de compensar essa falta com recursos privados. Basear no passado os repasses públicos é válido para um sistema complementar, mas não para um sistema exclusivo. O sistema misto é mais salutar nesse momento.

O sr. conhece alguma democracia que adote financiamento exclusivamente público em suas eleições?
Não conheço nenhuma que tenha financiamento público exclusivo e poucas são as que adotam o financiamento público quase exclusivo. O país que chega mais próximo talvez seja o México, que tem um financiamento público de aproximadamente 85%, além de Israel e Colômbia, esta para as eleições presidenciais.

Quais aspectos de financiamento público de campanhas temos hoje no Brasil?
O direto e o indireto. O primeiro é o Fundo Partidário, voltado para as organizações partidárias e que respinga no financiamento eleitoral. O segundo, que muitas vezes não é visto como financiamento público, é o horário eleitoral gratuito. A mídia geralmente enxerga isso de maneira muito negativa, mas eu discordo. É um avanço muito grande, e nessa área o Brasil se aproxima do financiamento exclusivamente público, proibindo os anúncios pagos.

Quais aspectos de leis estrangeiras sobre financiamento de campanha o sr. consideraria interessante pensar em adotar no Brasil?
Não é o caso de transferir modelos. O aperfeiçoamento institucional não funciona dessa forma. Deve-se conhecer os desafios do caso brasileiro para respondê-los de maneira adequada. Dito isso, um país muitas vezes citado como bom modelo de financiamento é o Canadá. Há limites muito baixos para doações, o que exclui as empresas, e complementa o financiamento privado com financiamento público. A Justiça Eleitoral lá é muito atuante em fazer valer as regras e existe grande transparência sobre o processo.

Como envolver mais o eleitor na fiscalização das campanhas?
Divulgando ainda mais as informações. Nos EUA, que foi um dos primeiros países a produzir e divulgar dados sobre financiamento de campanhas, ao longo de três décadas se formaram ONGs e uma mídia mais atenta para esse tipo de dados. No Brasil, a mídia e as ONGs estão levando mais a sério essas informações, mas ainda existe muito chão para aperfeiçoar esse olhar. É pouco provável que o cidadão vá ao site do TSE pesquisar os dados. Não devemos alimentar essa ilusão. É papel da mídia intermediar e traduzir esses dados para o cidadão comum.

E no tocante ao financiamento de campanha, como avalia a participação do eleitor como doador?
Na teoria democrática essa doação é a mais apropriada, a menos problemática em termos de dependência. Era o fundamento do financiamento dos partidos no início do século 20. A própria filiação partidária surgiu para viabilizar candidaturas de partidos de esquerda, que não tinham recursos próprios para bancar a campanha. Acho difícil acreditar que um modelo como o utilizado por Barack Obama nas eleições de 2008 vá vingar nos próximos anos no Brasil. A desconfiança da população em relação aos partidos ainda é muito grande e é difícil reverter isso a curto prazo. Além disso, o poder econômico do cidadão médio ainda não é suficiente para que ele se dê ao luxo de financiar uma campanha. Pela desigualdade social existente, também não seria um sistema muito igualitário, uma vez que o financiamento das campanhas seria feito somente por cidadãos de classe média para cima.

Mais opções
  • Google+
  • Facebook
  • Copiar url
  • Imprimir
  • RSS
  • Maior | Menor
Posts anteriores
Posts seguintes
Publicidade
Publicidade
  • RSSAssinar o Feed do blog
  • Emailtreina@uol.com.br

Buscar

Busca
Publicidade
Publicidade
Publicidade
  • Folha de S.Paulo
    • Folha de S.Paulo
    • Opinião
    • Assine a Folha
    • Atendimento
    • Versão Impressa
    • Política
    • Mundo
    • Economia
    • Painel do Leitor
    • Cotidiano
    • Esporte
    • Ciência
    • Saúde
    • Cultura
    • Tec
    • F5
    • + Seções
    • Especiais
    • TV Folha
    • Classificados
    • Redes Sociais
Acesso o aplicativo para tablets e smartphones

Copyright Folha de S.Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).